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sexta-feira, 2 de junho de 2017

SÉRIE: O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO (PARTE 1)


Hoje há grande reivindicação da dança e de instrumentos musicais (Sl 149 e 150), aclamar e aplaudir com as mãos (Sl 47), o levantar as mãos (inúmeros textos) como expressões bíblicas de louvor que deveriam ser usadas hoje na igreja. Deixando de lado o fato inconteste, de que ninguém, mas ninguém mesmo, em toda a tradição cristã ortodoxa, apesar de todos seus erros, jamais advogou ou defendeu dança no culto, a não ser, em tempos recentes, devemos considerar a forma como os Salmos e outros textos tem sido usados parar fazer avançar a adoração com demonstrações físicas.

Primeiro, os Salmos, dos exemplos que conhecemos, descrevem emoções e ações pessoais, as quais, necessariamente, não devem ser entendidas como praticadas na adoração pública. Um claro exemplo é que mais de um terço dos Salmos podem ser classificados de cânticos de lamento e súplica. O salmista descreve a si próprio como gemendo, chorando, suspirando, em lágrimas, angustiado, confuso, em solidão, dormente, moído, ansioso, desconsolado, em desespero, doente, morto e trucidado (várias referências nos Salmos). Devemos então, porque lemos isso nos Salmos, pensar que estas emoções também deveriam ser expressas no nosso culto público? Deveria o adorador repetir as emoções ali descritas? A atitude mental? Ou a postura corporal? Uma seleção bem cuidadosa dos Salmos deve ser feita para deixar só aqueles que demonstram ocasiões de demonstrações físicas e audíveis. Além disso, é bom lembrar, nem sempre estamos preparados para adotar tal postura, para tal convite de adoração.

Em segundo lugar, os salmos lembram eventos da vida de Israel, nos quais o louvor foi expresso em formas não típicas da assembléia pública. Por exemplo, o Salmo 47, nos diz que no transporte da “arca da aliança” houve uma parada com celebração de uma vitória, com trombetas, aclamações e danças (2Sm 6:12-15). Davi mesmo, nos é dito, “dançou diante do Senhor com todas as forças”. Mas é coisa muito diferente dizer que esta mesma expressão de alegria seria empregada pela nação reunida ante os santos dos santos. Esta foi uma celebração pública, não um culto de adoração. Há de se fazer uma distinção dessas coisas. Além disso, a única referência bíblica que temos de dança envolvida ao culto está em 1Co 10:7, onde Paulo cita Êx 32:6 e o incidente do “bezerro de ouro”. (isto não seria para nossa instrução?)

“Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: o povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se”.

O “divertir” que o texto se refere aqui (do grego paizin) é descrito em Êx 32:19:

“Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças (paizin); então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte”.

Aqui claramente há uma referência à dança litúrgica como forma de adoração, e Paulo, no entanto, se refere a essas pessoas que praticaram isso como sendo idólatras. Tal divertimento era adoração falsa.

Quanto aos textos dos Salmos 149 e 150, quem quer ver aqui uma justificativa para a dança (ou bandas no culto), tem de ler o texto até o final, e ver que no mesmo salmo é dito:

“Exultem de glória os santos, e no seu leito cantem júbilo, nos seus lábios estejam os altos louvores de Deus, nas suas mãos, espada de dois gumes”.

Desde que os Salmos nos direcionam a cantar com alegria em nossos leitos, deveríamos então trazer nossos colchonetes para o culto? E trazer também as nossas espadas e movê-las para o alto na hora da adoração? Fica claro que não. Os Salmos, portanto, não podem ser vistos como seleção de ações apropriadas ao culto público.

Em terceiro e finalmente, algumas práticas defendidas hoje baseiam-se não somente numa leitura seletiva, mas numa leitura equivocada dos seus significados nas Escrituras. Considere o levantar das mãos. Não é difícil determinar o significado desta prática na Escritura. Trata-se simplesmente de uma postura para oração. A famosa oração de Moisés durante a batalha de Israel nos dá um bom exemplo, mas há muitos outros (cf. Êx 17:9ss; Sl 28:1,2, 63:4, 72:2, 119:47, 134:2, 141:2, 143:4, etc). Então, se devemos levantar as mãos no culto, isto deveria ser feito simbolicamente, em nome da congregação pelo ministro, ou, por toda a congregação, durante a oração como uma postura de intercessão. Apesar disso, o assim chamado “movimento carismático” tomou posse desta postura de oração e transformou numa resposta pessoal para agitação emocional. Há até mesmo quem levante as mãos de outra pessoa. Creio que o maior problema quanto a isso é que as pessoas não se preocupam em investigar a Bíblia adequadamente; simplesmente escolhem um movimento que lhes agrada e seguem, fazem e ouvem o que querem, não o que devem. Por isso Paulo elogia as pessoas que, ao serem expostas ao evangelho, conferem nas Escrituras para verem se é verdade.

Todas essas mudanças na forma de adoração reformada no culto para se tornar o que é hoje, vista por muitos como uma séria degeneração, é ocasionada pelo fato de que a audiência objetivada é a congregação, e não os céus, não o Santo Deus. Ainda que tentem, não podem negar isso os que tais coisas praticam. A intenção é apresentar algo às pessoas que as anime, que as atraia para o culto, e não ao Senhor; isto é fruto do pragmatismo. Nem a adoração como instrumento de terapia e entretenimento ou a adoração fria e formal de algumas igrejas ortodoxas podem satisfazer a alma. -- A única adoração que pode satisfazer o homem e agradar a Deus é aquele na qual lemos, pregamos, oramos e cantamos a Bíblia --. Nela nós temos ordem sem sufocamento, liberdade sem caos, edificação sem entretenimento, reverência sem a rotina não-cognitiva. Tal adoração visa a Glória de Deus somente, e, portanto, busca estar de acordo com a Sua Palavra. Nos termos dos Reformados: Soli Deo Gloria, Sola Scriptura.

- Terry L. Johnson 
- Texto extraído e adaptado do livro “Adoração Reformada” 



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